Náuseas após a cirurgia é comum?

Muitos pacientes perguntam sobre o que poderiam fazer para evitar de ter náuseas e vômitos no pós operatório. Sabemos que as náuseas são eventos muito desagradáveis, mas atualmente podemos reduzir o risco que aconteçam.

É comum o relato de pacientes que tiveram náuseas após cirurgia de vesícula ou ginecológica e acabam perguntando se tem relação com a anestesia ou o tipo de cirurgia. É importante que avisem o anestesista e o cirurgião se já tiveram evento semelhante para que possam ser adotadas medidas preventivas.

As náuseas e vômitos após procedimento cirúrgico são muito comuns. São causa de grande desconforto e atraso na alta hospitalar, são importante causa de reinternação e podem ser responsáveis por eventos como deiscência (abertura de pontos) da parede abdominal e pneumonia por aspiração.
Estima-se que cerca de 30% dos pacientes podem apresentar vômitos no pós-operatório e cerca de 50% podem apresentar náusea.

Esses número podem ser ainda maiores em pacientes de alto risco para esses eventos.

Quais os pacientes sob maior risco de apresentar náuseas e vômitos no pós-operatório?

A cirurgia de vesícula biliar, cirurgias laparoscópicas e cirurgias ginecológicas são reportadas como cirurgia de maior risco. Mas provavelmente essas cirurgias estão mais relacionadas a esses eventos por conta de uso de anestesia geral e possivelmente pelo tempo prolongado de cirurgia e uso de opióides no pós-operatório.

Os principais fatores relacionados ao paciente incluem idade (pacientes com menos de 50 anos tem maior risco), sexo feminino, não-fumantes, história prévia de náuseas e vômitos em cirurgias, pacientes com vertigem relacionada ao movimento.

Figura 1: modelo de estratégia para prevenção de eventos de náuseas e vômitos no pós-operatório tendo em vista fatores de risco

O tipo de anestesia interfere no risco de náusea e vômitos no pós-operatório?

SIm, o uso de anestésicos inalatórios, uso de óxido nitroso e a duração prolongada da anestesia geral podem aumentar a chance desses eventos. O uso de opióides no pós-operatório também pode ser causa de náuseas, mas essa associação parece ser mais fraca do que se acreditava no passado.

A dose dos anestésicos e o tempo de anestesia estão diretamente relacionadas ao aumento do risco.

Como evitar as náuseas e vômitos no pós-operatório?

A identificação dos pacientes de maior risco e a tomada de medidas que ajudem a reduzir o tempo prolongado de anestesia, medidas que reduzam o uso de opióides para controle da dor (como utilização de raquianestesia sem opióides ou com dose reduzida, utilização de analgésicos não-opióides como a dipirona e anti-inflamatórios não esteroidais, realização de bloqueio local) contribuem para a redução do risco de náuseas e vômitos após o procedimento.

Na avaliação anestésica pré-operatória, o anestesista pode fazer a triagem dos pacientes em maior risco e determinar a programação anestésica que será realizada com ajustes individuais. A equipe cirúrgica e de cuidados peri-operatórias deve estar atenta a esses fatores de risco.

Pacientes de baixo risco na maioria das vezes não necessitam de medicações de prevenção anti-eméticas.

Estratégias gerais para redução do risco de náusea:

  • Utilização de bloqueios regionais ao invés de anestesia geral
  • Utilização de anestésicos com menor potencial de provocar náuseas
  • Evitar uso de óxido nitroso e antesésicos voláteis
  • Minimizar o uso de opióides no pós-operatório
  • Hidratação venosa adequada.

Pacientes sob risco intermediário ou alto (com dois ou mais fatores de risco) podem se beneficiar da administração de medicações anti-eméticas no início da cirurgia (à indução) e ao término.

Saber reconhecer o paciente com maior risco no pós-operatório permite a redução da ocorrência de eventos adversos, recuperação mais precoce e maior conforto.