Qual é o Papel da Ressonância Magnética na Avaliação da Próstata?

O câncer de próstata é o segundo tipo de câncer mais comum em homens. Cerca de 62-65.000 novos casos são diagnosticados anualmente no Brasil. No passado, a maioria dos pacientes era diagnosticado em estágio avançado com doença espalhada para ossos, fígado e outros órgãos (doença metastática).

Isso mudou com o advento do PSA (antígeno prostático específico, exame de sangue) a partir da década de 1980/1990. Com um simples exame de sangue, passou a ser possível inferir quais os pacientes apresentavam maior chance de estar com câncer de próstata e indicar a biópsia de próstata em uma fase mais precoce.

No entanto, o PSA pode estar elevado por outras causas, como pelo aumento da próstata (hiperplasia prostática) e infecções prostáticas (prostatite). Para diferenciar essas condições e bater o martelo quanto a diagnóstico de câncer de próstata, é necessário que seja realizada a biópsia da próstata. Nesse procedimento, são retirados pequenos fragmentos da próstata e enviados para análise pelo patologista.

O grande problema no passado, antes da ressonância magnética, é que era necessário localizar o tumor na próstata com o toque retal ou realizar biópsias aleatórias (randômicas) utilizando somente o ultrassom (ecografia).

O exame de toque retal é importante ferramenta, mas nos permite avaliar somente uma porção da próstata (posterior). O ultrassom convencional transretal é bom para avaliação do tamanho da próstata e sua relação com a bexiga, mas infelizmente, é pouco útil para avaliar a presença de câncer de próstata (tem baixa acurácia).

Então, um exame de imagem de melhor qualidade poderia nos dar muitas informações e nos ajudar na hora de tentar enxergar lesões na próstata sugestivas de câncer de próstata em pacientes em que a suspeita é alta.

Aí que entra a ressonância magnética de próstata.

Vamos aproveitar perguntas frequentes de nossos pacientes para esclarecer mais informações sobre a ressonância magnética de próstata:

Primeiro, o que é o exame ressonância magnética?

O exame consiste na obtenção de imagens através da interação do campo magnético gerado pela máquina de ressonância com o nosso corpo.

Utilizando campos magnéticos e radiofrequência é possível criar imagens de alta resolução em diferentes fases.

O estudo de cada uma dessas fases permite a diferenciação dos diferentes tecidos e fluidos que compõem o nosso corpo.

A ressonância magnética não utiliza radiação, o que é uma grande vantagem na avaliação de diferentes condições quando comparado com a tomografia ou exames baseados na tecnologia de emissão de radiação.

Mas é claro que cada exame tem suas vantagens e desvantagens, que devem ser individualizadas de acordo com o tipo de investigação e doença a ser estudada.

Qual o papel da ressonância magnética no estudo do câncer de próstata?

A ressonância magnética é um exame de imagem em que permite avaliar a próstata de forma mais precisa na busca do câncer de próstata.

Informações valiosas sobre a extensão da doença são obtidas. Em alguns pacientes o câncer está acometendo somente a próstata. Em outros, pode já estar invadindo órgãos próximos (vesículas seminais, bexiga, uretra). O exame tem se tornado importante para diferenciar os pacientes em aqueles em que a biópsia é mais necessária e aqueles em que a probabilidade da presença do tumor é menor.

Na hora de realizar a biópsia, muitas vezes utilizamos a imagem da ressonância para orientar as áreas de maior suspeita que devem ser biopsiadas.

Como é feita a ressonância magnética de próstata?

Em geral, é realizada em máquina de ressonância de 1.5 ou 3 Tesla. São máquinas de ressonância mais modernas e que permitem a obtenção de imagens de maior qualidade.

Muitas vezes é solicitado que o paciente faça um preparo de intestino e é injetado um contraste endovenoso (na veia) para que sejam obtidas imagens em diferentes fases (DWI, ADC, T2 e fase com contraste endovenoso).

Após a realização do exame, um radiologista especializado em avaliação da próstata deve laudar o exame. E essa é uma parte fundamental para que a qualidade do exame ajude na tomada de decisões de diagnóstico e tratamento.

 O que é PI-RADS?

PI-RADS é um sistema de classificação criado para caracterizar as lesões prostáticas e seu risco para câncer de próstata.

Um conjunto de protocolos foi criado pelo International Prostate MRI Working Group para que fossem estabelecidos critérios reprodutíveis de técnica de realização do exame e interpretação pelos radiologistas. Revisões são periodicamente realizadas para melhorar a acurácia e reprodutibilidade desses exames.

A classificação permite separar as lesões na próstata em uma escala:

  • PI-RADS 1: muito baixa probabilidade de neoplasia clinicamente significante
  • PI-RADS 2: baixa probabilidade de neoplasia clinicamente significante
  • PI-RADS 3: probabilidade intermediária de neoplasia clinicamente significante
  • PI-RADS 4: alta probabilidade de neoplasia clinicamente significante
  • PI-RADS 5: muito alta probabilidade de neoplasia clinicamente significante

Pacientes com classificação tipos 3, 4 e 5 devem ser avaliados por seus urologistas para discutir a necessidade de prosseguir a investigação, pois o risco de câncer de próstata é maior e muitas vezes é necessária a realização de biópsia da área de suspeita e do restante da próstata (biópsia focal e randômica associadas).

No estudo PRECISION (Prostate Evaluation for Clinically Important Disease: Sampling Using Image Guidance or Not), a taxa de detecção de câncer de próstata clinicamente significante em pacientes com lesões PI-RADS 3, 4 e 5 foi de 12%, 60% e 83% respectivamente.

Tem diferença fazer ressonância magnética de próstata em uma clínica de radiologia especializada ou uma clínica de radiologia geral?

Sim, sempre orientamos nossos pacientes a realizar os seus procedimentos em centros especializados com radiologistas com formação específica para a leitura de exames para investigação de câncer de próstata.

Utilizando as técnicas atuais padronizadas e com o treinamento adequado, os radiologistas dão importantes informações que nos auxiliam no diagnóstico e tratamento dos pacientes.

Já tenho o diagnóstico de câncer de próstata (fiz uma biópsia randômica). Vale a pena fazer uma ressonância magnética?

Caso não tenha feito a ressonância magnética antes da biópsia, é muito provável que o seu urologista pedirá uma ressonância magnética para complementar a sua avaliação. A ressonância é útil não só para guiar a biópsia, mas também para avaliar a extensão do tumor, selecionar o paciente que são candidatos a acompanhamento ativo. Serve também para ajudar na avaliação da extensão da doença para os feixes vasculonervosos, uretra, vesículas seminais, reto e bexiga. Esses dados são de fundamental importância para o planejamento da cirurgia, radioterapia ou técnicas ablativas, no caso de programação de tratamentos locais.

Não tenho câncer de próstata, mas tenho a próstata muito grande (mais de 100g). Fiz a ressonância magnética que mostrou baixa probabilidade de câncer de próstata (PI-RADS 2). Esse exame ajuda o meu médico com alguma informação a mais?

Sim. Atualmente, utilizamos esse exame também no planejamento do tratamento do paciente com hiperplasia prostática. A hiperplasia prostática é uma doença que envolve o crescimento de diferentes componentes da próstata determinando obstrução ou dificuldade no esvaziamento da bexiga.

A ressonância permite avaliar características do crescimento da próstata e suas diferentes regiões. A observação cuidadosa da ressonância permite ao urologista planejar a forma mais adequada de tratamento, seja por via endoscópica ou por via abdominal.

Na enucleação de próstata de próstatas maiores do que 60g, a observação das imagens da ressonância ajuda o cirurgião a planejar a estudar a anatomia da próstata e suas diferentes porções e lobos. Permite-nos avaliar a profundidade de ressecção, relação do adenoma (porção a ser removida da próstata) com o esfíncter da uretra e com a bexiga.

Atualmente, é muito importante que os homens passem no urologista para avaliação quanto a risco de câncer de próstata. Naqueles com maior risco, será realizado exame PSA e exame de próstata se assim desejarem.

A avaliação quanto a risco para câncer de próstata deve ser realizada a partir de 50 anos em pacientes sem fatores de risco e sem sintomas urinários.

Pacientes com risco aumentado, devem passar no urologista para avaliação a partir de 45 anos.

Os fatores de risco para câncer de próstata incluem:

  • Histórico familiar de parentes de primeiro grau com câncer de próstata ou mesmo outros tipos de tumores como câncer de mama e cólon.
  • Pacientes obesos e sedentários.
  • Tabagistas
  • Pacientes com sintomas urinários (sangramento urinário, dificuldade de esvaziar completamente a bexiga, aumento da frequencia de idas ao banheiro para urinar, interrupção do sono frequente para micção, jato urinário fraco e perda urinária)
  • Afrodescendentes

Vale lembrar que os exames de PSA e toque digital retal são importantes ferramentas para a avaliação e seleção de pacientes com risco aumentado de câncer de próstata.

O urologista realiza o toque como parte do exame físico e solicita o exame de PSA para ponderar o risco do paciente ter câncer de próstata.

A ressonância magnética da próstata é importante ferramenta que auxilia no diagnóstico de câncer de próstata clinicamente significante. É importante auxiliar no planejamento da biópsia da próstata e tratamento.

Atualmente, a ressonância magnética de próstata é utilizada para complementar a avaliação dos pacientes que identificamos com maior risco (aqueles com elevação de PSA, toque retal alterado).

Dr. Carlos Watanabe é especialista em Cirurgia Urológica Minimamente Invasiva e Cirurgia Robótica.
Médico urologista e parte do corpo clínico dedicado do Hospital Sírio-Libanês em Brasília.